segunda-feira, 28 de julho de 2008

56. QUE MINHA ÁRVORE NÃO MORRA ANTES DE MIM, PARA EU NÃO ME ENTRISTECER!




MINHA ÁRVORE

Margaret Pelicano

Eu quero uma casa com quintal e pequeno jardim na frente; quero uma árvore frondosa nos fundos, com banquinho circular para usufruir de sua sombra no verão e do perfume de suas flores na primavera!
Quero uma árvore com ouvidos para ouvir meu canto em dias de paz, ouvir minhas lamúrias em dias de tristeza, acariciar-me com seu abraço quando ao circundá-la com meus braços, ela sentir minha solidão.
Quero uma árvore que tenha formigas passeando nela, para poder colocá-las no chão da minha infância, de recordação!
Quero uma árvore que dê frutos saborosos, para colhê-los com a mão, e, ali mesmo, debaixo, lambuzar-me do doce suco, lambrecar os lábios, tirar fiapos dos dentes, virar criança até à velhice.
Quero uma árvore que me conte seus segredos, sobre seus filhos, seus sentimentos, suas sedes, seus lamentos, suas podas...que me diga quantos passarinhos já pousaram nela e despentearam seus cabelos, quantos fizeram ninhos, quantos corais matinais e vesperais, quantas vozes graves, agudas, contraltos, quantos bichinhos lhe confidenciaram segredos...
Se me permitir, quero pendurar uma rede, se não for machucar os braços dela, e deitada ali, ficar confabulando, contando histórias, e ouvindo no silêncio da brisa suas verdades! Vez em quando limpar o banco, sentar-me nele, abraçada às pernas e só curtir quietude, tristeza, ou sorrir para os insetos passeando por ela...
Quero esta árvore dos meus sonhos.
Se perceber vizinhos com gaiolas, quero à noite pedir que ela vigie a casa deles, vou soltar os pássaros e vê-los pousar nos mais altos galhos, enquanto sorrio para a cumplicidade dela...
Ela, a princesa coroada da casa! Ela minha amiga. Do meu quarto quero vê-la, admirá-la, piscar o olho antes de dormir, enviar beijos com as duas mãos! E desejar que ninguém a derrube, nem maltrate, nem a risque para fazer coraçõezinhos com flechas de cupido! Nem pelo amor mais desvairado!
Quero esta árvore ainda nesta vida, por que em outras, posso estar querendo uma floresta de macieiras! E quero mais: quero que todos queiram uma árvore, para compreender a importância dela pela vida inteira!

Brasília - 27/07/2008
Crônica inspirada em texto de Mª Augusta Christo de Gouvêa - O CANTO DO CURIÓ - para esta escritora, a minha homenagem!

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