quinta-feira, 20 de novembro de 2008

84. ERA ASSIM, MAS PODERIA NÃO TER SIDO!

ERA ASSIM
Margaret Pelicano

Era assim:
uma correria para enfeitar o presépio
com seu laguinho de espelho,
cisnes e patinhos a nadar
bem na entrada da casa da vizinha!
O teto era de bambu apanhado no terreiro!...
Era assim,
uma pobreza singela,
nem se pedia presente ao Papai Noel...
Sabia-se de antemão:
Minha mãe nada pode me dar!
Mas qual não era a surpresa:
Na manhã de vinte e cinco de dezembro,
eu me lembro...ah! se lembro,
lá estavam chocolates, jujubas,
uma sombrinha para cada uma,
lápis de cor, canetas tinteiro,
realizando os desejos do ano inteiro...

É, foi uma fase difícil,
meu pai desempregado,
minha mãe, professora em fazenda,
uma comidinha minguada,
mas sempre um naco de carne,
arroz e feijão, ou macarrão, frutas do terreiro...
Minha mãe recebia o décimo terceiro,
comprava farinha de trigo,
ganhava ovos e manteiga dos alunos da roça,
e todas íamos fazer roscas,
pães com torresmo,
rosquinhas de nata, de pinga
tão sequinhas que desmanchavam na boca...

Nesta época de vacas magras,
não se comprava pinheiro,
arrumávamos um galho seco,
punhamos algodão,
as bolas vermelhas dos anos anteriores,
cordões prateados ou dourados,
era uma azáfama,
algazarra pra ninguém botar defeito,
alegria, desde o grito do leiteiro
pela manhã, até o entardecer...
Um entra e sai das casas ao lado
para ver os enfeites,
a preparação das festividades
que receberiam Jesus Menino,
no lar do médico ao sapateiro...

Era assim,
foi assim,
em muitas casas do povo mineiro,
lá pelos idos de 60...
A gente era feliz e sabia!
Vivia com pouco e não morria!
Remédios...do quintal!
Muita chuva, muito frio,
roupa no varal,
assoalho brilhando,
todo mundo ao seu modo brindando
a chegada do Natal!

Brasília - 19/11/2008


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